Frustração e resiliência no trabalho

Fernanda do Canto
4 min readJan 10, 2022

Para que servem a frustração e a resiliência afinal?

Frustração de regra é o resultado de expectativas ou desejos que não se realizam, comum quando se tem altas expectativas envolvidas e ocorre com frequência no dia-a-dia do trabalho.

Não raro nós mesmos recomendamos aos nossos pares ou líderes para que não esperem muito de determinada pessoa. Este comportamento, em minha opinião, pode representar o desejo irrefletido de não se magoar ao esperar algo que pode não acontecer.

A frustração é mola propulsora para a resiliência. Se não sentirmos a sensação de incapacidade diante de algo em nenhum momento de nossa trajetória profissional, correremos um grande risco, estaremos alimentando falsas realizações e nos apegando ao conforto que irão proporcionar.

Nas leituras que fiz a respeito deste tema, encontrei uma referência sobre pilares de sustentação da resiliência que fazem sentido para mim. Pessoas que desenvolvem aspectos como: introspecção, independência, capacidade de se relacionar, iniciativa, humor, criatividade, moralidade e autoestima, estarão construindo sua resiliência, sua capacidade de superar as frustrações.

Vamos a um exemplo prático usando a história de uma jovem de 22 anos que consegue seu primeiro trabalho em uma grande companhia. Ela nunca, até aquele dia, havia tido contato com computadores, mas gostava de gente e tinha habilidades para se relacionar, falava bem, ninguém poderia imaginar que ela não soubesse manejar um computador. Suas únicas experiências profissionais até então haviam sido como dona de casa, babá e empregada doméstica para apoiar a mãe separada a criar o irmão temporão.

Logo nas primeiras horas do primeiro dia de trabalho tudo pareceu estar perdido. Sua gestora enviou um arquivo com atualizações importantes que deveriam ser armazenadas no (C:), estudadas e repassadas aos clientes. Lá pelas tantas, intrigada com a falta de retorno sobre o recebimento do material, liga a gestora questionando se ela havia recebido e se havia ficado com alguma dúvida, etc… Conversa vai conversa vem, ela sacou que a jovem não sabia onde checavam e-mails quiçá onde ficava o raio do (C:) do computador e perguntou: — Como é que você não nos fala que não sabia usar um computador? A jovem respirou fundo e respondeu: — Em nenhum momento durante as entrevistas me foi perguntado se eu sabia, e eu tendo a certeza de que era capaz de aprender rapidamente escolhi me responsabilizar pelas consequências. Diante daquela atitude e tamanha franqueza ela conquistou a confiança e a chance de permanecer no emprego recém-conquistado. Assumiu o compromisso em aprender as noções básicas necessárias em dois dias.

Naquele mesmo dia matriculou-se em um curso de informática, utilizou cada minuto em que não estava prestando atendimento, horas e horas após o expediente para desbravar aquela máquina e cumprir com sua palavra, já que fazer isso em casa não era uma opção porque ela não tinha tal equipamento em casa.

Nunca houve oficialmente o terceiro dia, tamanha a determinação. Algumas horas após o telefonema revelador, ela já estava se comunicando via e-mail e acessando o sistema com o auxílio de colegas. Tornou-se fera nas artes do computador em pouco menos de 30 dias.

Permaneceu por alguns anos naquela empresa, período em que galgou alguns níveis, passou de atendente nível I a assistente administrativo, e mais tarde chegou a assumir uma supervisão.

Depois disto houveram outras experiências profissionais onde ela teve que recomeçar. Vieram outras questões que frustravam a jovem como, por exemplo, a conclusão de seus estudos. As conquistas daqueles anos soavam “falsas” por que ela não tinha um curso superior, ser competente não era o bastante, precisava do canudo para alcançar respeito e reconhecimento no mundo do trabalho e minimizar os recomeços. Aos 32 anos ela finalmente entrou na tão sonhada faculdade.

Este exemplo, resumido em alguns parágrafos, traz mensagens subliminares, como a lição do bambu chinês de autor desconhecido que nos fala para não desistirmos facilmente diante das dificuldades que surgirão. É preciso muita fibra para chegar às alturas e, ao mesmo tempo, muita flexibilidade para se curvar ao chão.

Eduardo Galeano tem uma citação que admiro sobre utopia, foi em um destes vídeos que encontramos na internet que assisti e nunca mais esqueci. “A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar”.

Portanto, quando ouço as palavras frustração e resiliência penso que têm o mesmo propósito da utopia, servem para nos FAZER CAMINHAR.

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Fernanda do Canto

Assessora Virtual 🧠Inquieta, analítica, raciocínio prático, com borogodó para resolver problemas bons (que dão resultados)!