O que um dia frio me ensinou sobre responsabilidade?

Fernanda do Canto
3 min readAug 21, 2021

O ano era 2002, o mês era julho, no auge do inverno na serra gaúcha. Eu residia em Bento Gonçalves à época.

Certo dia recebi um comunicado que seria a responsável por ir até a cidade vizinha, Farroupilha, no dia seguinte para abrir a loja física da Brasil Telecom e dar início aos atendimentos presenciais.

Contexto: nessa época houve uma determinação judicial para reabertura dos postos de atendimento ao consumidor, não sendo suficiente o prestado por “call center”, sob pena de multa altíssima por dia de lojas fechadas. Foi uma operação gigante nesse movimento de reabertura das lojas físicas de atendimento.

Naquela manhã gélida por alguma razão (que não lembro) saí para trabalhar apenas com uma blusa e uma echarpe. Meu esposo me deixou na rodoviária cedinho para pegar o ônibus rumo a Farroupilha.

Detalhe: eu recém havia me mudado, mal conhecia Bento, e nunca havia estado na cidade de Farroupilha antes.

Desembarquei em Farroupilha em meio a um nevoeiro e com sensação térmica beirando -2°. Ao chegar no endereço da loja, onde era para estar uma pessoa me aguardando com a chave do local, dei com a “cara na porta”. Tratava-se daquelas grades pantográficas de ferro com porta de vidro que se encontrava acorrentada com cadeado.

Faltava pouco menos de 40min para o horário de abrir a loja sob pena de multa para a empresa. Lembro que fiquei nervosa pra car&$!#%*, mas pensei: — te acalma e foca na solução, é tua responsabilidade, não tem ninguém para te ajudar, foco!

Agora escrevendo esse relato parece fácil, soa até um tanto engraçado, mas na época foram minutos de desespero.

Peguei meu telefone, um Nokia 3310, e liguei para o 102 auxílio à lista pedindo número de um chaveiro 24h na cidade. Simmmm auxílio à lista minha gente, não tinha as facilidades de hoje na palma da mão para consulta instantânea.

Depois de longos 30mim entre minha ligação para o 102 e a chegada do chaveiro, abri a loja com um atraso de 15min. Ah, e o dinheiro que eu tinha só dava para a passagem de volta e o ticket refeição, precisei convencer o chaveiro a vir fazer o serviço com urgência e receber no dia seguinte. Transparente que sou, não consegui chamá-lo sem antes dizer que não teria como pagar pelo serviço no ato.

Superado esse obstáculo outro se iniciava, o frio. Lembram que sai de casa naquele dia com apenas uma blusa e uma echarpe?

A mesa de atendimento ficava bem em frente a porta, uma porta grande que precisava permanecer aberta, e o vento gelado parecia congelar até meus pensamentos. Os atendimentos naquele dia não foram muitos, o que fez com que o tempo demorasse ainda mais a passar.

Por ser a minha primeira vez na cidade e estar congelando, não sai para almoçar, permaneci na loja durante o horário do almoço feliz em fechar a porta e sentir menos frio (psicologicamente fechar a porta pareceu me aquecer um pouco).

Ao final do dia fechei tudo com minhas chaves novinhas, as guardei com orgulho e rumei a rodoviária para pegar o ônibus e voltar para casa. Meu esposo foi me buscar na rodoviária de Bento e ele conta que eu estava vermelhona, eu tinha a sensação de ardência, devido ao frio que passei por cerca de umas 13 horas seguidas mais ou menos.

Eu e você sabemos o valor de um banho quentinho não é mesmo? Mas naquele dia, ahhh…multiplica esse valor por mil.

O que aprendi naquele dia?

A sempre levar um casaco a mais onde quer que eu vá (risos).

Que RESPONSABILIDADE individual e coletiva, seja na vida profissional ou pessoal, jamais serão desconectadas pelo simples fato de que não estamos sozinhos no mundo e, seja em casa, no trabalho ou em sociedade as nossas ações geram consequências (neste caso era uma multa financeira para a empresa a qual eu estava representando lá na ponta).

Ou seja, ter senso de comprometimento individual e coletivo para assumir consequências e tomar decisões rápidas.

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Fernanda do Canto

Assessora Virtual 🧠Inquieta, analítica, raciocínio prático, com borogodó para resolver problemas bons (que dão resultados)!